Do medo à ação: o Impacto da ACT na Performance
De uma maneira geral, quando uma pessoa sente autonomia e confiança para tomar decisões, sem se deixar inibir pela emoção e/ou limitar pelas expectativas dos outros, é capaz de elevar a sua energia mental para clarificar conflitos e resolver bloqueios emocionais.
No entanto, as barreiras internas criadas por crenças, medos e padrões de comportamento adquiridos ao longo do tempo, impedem-nos, muitas vezes, de expressar o nosso verdadeiro potencial de desempenho.
Nesta óptica, passar “do medo à ação” é essencial para maximizar a performance, quer seja, no desporto, no trabalho ou noutra esfera da vida, envolvendo um processo profundo de autoconhecimento, disciplina e uma reprogramação da narrativa interna.
Por outras palavras, ajudar os indivíduos a desenvolverem uma “desidentificação” com respeito aos padrões mentais interiorizados, no decorrer das suas experiências negativas, permitirá não só, minimizar as formas prejudicais do controlo social e verbal, como também, alavancar as suas possibilidades de escolha e de ação.
No que concerne à atmosfera competitiva, considera-se que o maior obstáculo para atingir um desempenho de superação- sob pressão ou perante a adversidade, não é físico, mas sobretudo mental, partindo do pressuposto, de que a instrução interiorizada é a de: “competir para ganhar”.
Com efeito, as condutas de evitamento observadas nos desportistas, para além de uma certa inflexibilidade psicológica, ancorada a um pensamento de curto-prazo, com vista o alcance de resultados imediatos, prejudicam, sobremaneira, a construção de uma mentalidade de crescimento.
A ACT (Acceptance and Commitment Therapy; Hayes) sublinha que a tentativa de suprimir um pensamento, uma emoção, uma sensação ou experiência desagradável, pode causar o seu efeito contrário, ou seja, aumentar o foco atencional nos aspetos que se pretendeu evitar.
Nesta perspectiva, a ACT aplicada à performance, propõe uma mudança de paradigma, em comparação, com outras técnicas de intervenção, na medida em que promove uma clara modificação, relativamente à narrativa interna e experiência social do atleta; tomando em consideração um conjunto de seis processos centrais:
1. Aceitação
A aceitação envolve reconhecer emoções como a ansiedade, o medo de falhar ou a frustração e permitir que as mesmas estejam presentes – sob pressão elevada, como em finais de campeonatos ou jogos decisivos; desativando, assim, os mecanismos de controlo exagerado da experiência imediata.
Por exemplo: um praticante de Jiu-jítsu que sente ansiedade numa cerimónia de reconhecimento- ao grau de faixa preta, aprende a aceitar essa ansiedade, como parte de um processo essencial de superação mental- ao invés de tentar bloqueá-la, diminuindo assim, o impacto da sensação de desconforto.
2. Desfusão Cognitiva
A desfusão cognitiva ensina os atletas a descolarem o “eu” dos seus pensamentos, nomeadamente, a identificarem esses pensamentos como experiências mentais temporárias, em lugar de assumi-los como reflexos da realidade e/ou verdades absolutas, sobre as suas capacidades ou valor.
Por exemplo: um jogador de xadrez que pensa “eu não sou bom o suficiente” num momento decisivo do jogo, desenvolve a capacidade de concentrar-se na execução de um possível xeque-mate, sem se deixar contaminar pela autocrítica.
3. Contacto com o Momento Presente
A prática da atenção plena estabelece um sentido do “eu” como um processo de consciência contínua- dos acontecimentos e experiências. Neste sentido, os atletas aprendem a sintonizar com a vivência emocional subjectiva (sem julgamentos ou avaliações excessivas), em prol de uma diminuição gradual da sua sensibilidade, à interferência dos mesmos.
Por exemplo: um praticante de ginástica artística, numa prova de qualificação, escolhe manter o foco na respiração, em vez de se preocupar com os que os outros estarão a pensar sobre ele.
4. Eu como Contexto
A prática desta estratégia encoraja o atleta a ampliar a visão de si mesmo, independentemente, dos altos e baixos vinculados à sua experiência desportiva. Desenvolver essa perspectiva permite que o indivíduo assimile as falhas ou os sucessos momentâneos, como partes integrantes de um projecto evolutivo.
Por exemplo: um jogador de ténis profissional que perde um jogo importante nas semifinais de um grande torneio, assume a derrota como uma experiência momentânea, que não o define, enquanto atleta e/ou pessoa.
5. Foco nos Valores
A ação focada nos valores funciona como um guia de orientação interna, que facilita a tomada de ações intencional, em função, daquilo que é realmente significativo para o sujeito- conferindo um sentido mais profundo à sua prática e carreira desportiva.
Por exemplo: um atleta de andebol que é mandado para o banco, durante uma competição importante (após 10 minutos de jogo); consegue assimilar melhor um sentimento de injustiça, ao reconhecer que durante a sua breve prestação, agiu de acordo com os seus valores centrais- esforço máximo e integridade. Com efeito, esta vivência, não afetará de forma significativa os seus níveis de autoconfiança.
6. Ação Comprometida
A ACT promove a construção gradual de padrões de ação comprometida que aproximem o indivíduo dos seus objetivos e valores. Perante situações de pressão ou incerteza, é comum o atleta recorrer a estratégias de evitamento e fusão cognitiva- sendo que o compromisso com pequenas ações, fortalece a sua identidade de resiliência.
Por exemplo: um maratonista de longa distância que sente dor e cansaço extremo durante uma prova, pode usar esta técnica para se concentrar no compromisso de terminar a corrida, desafiando o desconforto físico e a tentação de desistir.
De acordo com estes pressupostos, a ACT (ACCEPT, CHOOSE, TAKE ACTION) aplicada ao contexto competitivo oferece uma abordagem prática e humanizada, que visa elevar os níveis de desempenho global dos atletas, tendo como base a construção de padrões comportamentais flexíveis, que se alinhem com valores de compromisso e de melhoria contínua- numa perspetiva a longo prazo.
Nesta linha de pensamento, os atletas tornam-se emocionalmente mais resilientes, motivados e focados, ao adaptarem estratégias sob pressão nas áreas que são facilmente mutáveis (por exemplo: no comportamento evidente e regulação emocional), em simultâneo, com a prática da aceitação e da atenção plena, nas áreas onde a mudança não é possível, ou útil, porque depende, sobretudo, das características adversas que contemplam a atmosfera da competição.
Vamos então imaginar um cenário de pressão máxima como uma final olímpica….
“The open-minded see the truth in different things, the narrow-minded see only the differences”
– Unknown
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