Como a Neutralidade Potencia a Eficácia do Psicólogo do Desporto
A questão que motivou a escrita deste artigo envolve uma profunda reflexão sobre as formas atuais em que a intervenção do Psicólogo do desporto e da performance consegue ser eficaz e em simultâneo, ética e profissional.
Nesta óptica, atendendo ao facto de que o contexto de intervenção na Psicologia do desporto e da performance é multifacetado e com menos regras predefinidas do que aquelas que são exigidas noutras especialidades: a NEUTRALIDADE revela-se um principio fundamental, de modo a garantir a eficácia da mesma.
Com efeito, a neutralidade refere-se à capacidade do psicólogo de manter uma postura imparcial, livre de ideias preconcebidas e projeções, sendo por isso essencial para a construção de relações de confiança e de intervenções frutíferas, com vista ao florescimento integral dos atletas.
Nesta perspetiva, destaca-se a importância de avaliar minuciosamente determinados aspetos, de forma a promover um ambiente terapêutico que potencialize os objetivos criadas em conjunto com o atleta:
– Transferência e contratransferência: os sentimentos e reações emocionais dos atletas podem desencadear respostas pessoais de parte do psicólogo, afetando a objetividade da sua intervenção;
– Conflitos de interesse: a dualidade de papéis, como ser consultor de uma equipa e terapeuta individual, pode criar conflitos de interesse que desafiam a neutralidade do psicólogo;
– Orientação para o ego versus uma orientação para a missão: um profissional orientado para o ego pode “cair no erro” de basear as suas ações na procura de reconhecimento, visibilidade e status pessoal, comprometendo a efetividade do seu desempenho- por oposição- uma orientação alinhada com uma missão maior traduz-se num acompanhamento alicerçado no principio da equidade, na empatia e numa intervenção multidisciplinar atendendo ao melhor interesse do atleta.
Nesta linha de pensamento, impera a necessidade de investir em estratégias concretas, no intuito de ajudar os profissionais da área a colmatar estas questões e a dignificar a sua prática diária, designadamente:
• Desenvolvimento Pessoal: investir em psicoterapia pessoal ajuda sobremaneira na exploração e clarificação de emoções, motivações e barreiras mentais, bem como, na resolução de conflitos internos;
• Autoconsciência: praticar um exercício de autoreflexão contínua auxilia na gestão de sentimentos e crenças que podem influenciar os aspetos relativos à contratransferência;
• Autenticidade: agir de acordo com as motivações verdadeiras e os valores centrais promove uma prática mais genuína e criativa;
• Mentoria: apostar numa supervisão regular serve de alavanca para optimizar a qualidade das intervenções;
• Formação contínua: manter uma atitude flexível e atualizada, no que concerne à investigação científica e às práticas emergentes na psicologia do desporto, permite não só inovar nas formas de intervir, como marcar a diferença, no que se refere ao alcance do resultados de excelência;
• Estabelecimento de limites: definir e manter limites claros na relação profissional com os vários agentes que interagem com o Psicólogo do desporto e da performance, contribui para a criação de níveis adequados de autoliderança;
• Código de ética: adotar e seguir rigorosamente o código de ética profissional dos psicólogos da especialidade fomenta o respeito e a responsabilidade por esta área de intervenção.
Consequentemente, os psicólogos que se empenham em aplicar os princípios subjacentes à neutralidade na sua prática profissional contribuem de forma significativa, para o estabelecimento de uma aliança terapêutica de confiança, bem como para o equilíbrio e desempenho óptimo dos atletas.
Nesta ordem de ideias, a neutralidade não é apenas uma prática desejável, mas uma obrigação ética que fortalece a integridade e a relevância da psicologia do desporto e da performance, num universo de intervenção, onde todos querem ter uma palavra a dizer.
“São as nossas escolhas que mostram quem realmente somos, bem mais do que as nossas competências”
Joanne K. Rowling
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